Prostituta não é uma profissão, mas uma vocação, um arquétipo, como a "grande mãe"
O tédio é um dos maiores infernos humanos. Como diz a personagem mais
legal do filme "Late Bloomers", com William Hurt e Isabella Rossellini, a
bisavó pirada da família: "Se você é criança e não aprende a lidar com
o tédio, quando cresce fica idiota".
Uma das piores formas de tédio é a estrutura sexual perversa. Ou, como
alguns dizem por aí, "sadômasô" (o que antigamente era chamado de
"sadomasoquista", no tempo em que era feio ser sadomasoquista).
Não vou entrar em debates intermináveis sobre o que a "perversão" é,
vou dizer claramente o que quero dizer com esta palavra e por que a
perversão sempre me parece entediante.
Recentemente, na sua versão "sustentável", ela deixa ainda mais claro
como é um cachorro desdentado. Você não sabe o que é um "sadômasô"
sustentável?
Perversos, "descendentes" do chato Marquês de Sade, supervalorizado na
filosofia, se acham o máximo porque pensam que realizam as fantasias que
os neuróticos sonham e não têm coragem de realizar.
Enganam-se eles. A vida sexual do perverso é que é chata: queimar e ser
queimado, bater e apanhar, ser amarrado e amarrar, máscaras de coro,
caras que se vestem de bombeiro e mulheres de colegiais, gente que acha o
pé da mulher seu melhor órgão sexual... "boring". Elas têm coisa muito
melhor...
O Eros do sexo é o pecado, a vergonha, a culpa, a impossibilidade. A
proibição, o medo. A vergonha é tão importante quanto imaginar a mulher
por baixo da saia justa ao invés de vê-la de forma obviamente nua.
Quem não sabe disso não entende nada de orgasmo. Quem diz coisas como "É
proibido proibir" é bobo e devia continuar fazendo suas festas em
bufês infantis.
A palavra "sustentável" hoje em dia é como "ética", "Cabala", não quer
dizer nada. É como escrever na porta de uma padaria "sob nova direção"
só para atrair clientes. Propaganda provinciana.
No sentido que uso aqui, "sustentável" quer dizer "do bem", "inócuo",
"corretinho". Por exemplo, temos até serial killer sustentável, o
Dexter, da série homônima, serial "killer" que só mata serial killers.
Limpinho como um "crente" da classe C.
Prefiro Jack, o estripador, que estripava prostitutas porque estas
encarnam a mais antiga das vocações femininas e, por isso mesmo, uma das
suas maiores delícias. Prostituta não é uma profissão, mas uma
vocação, um arquétipo, como a "grande mãe".
O coitado do Sade ficaria horrorizado com o que fizeram de sua
"Filosofia da Alcova", um livro para formar libertinos contra o sistema
opressor no século 18. Você já reparou como todo mundo que quer nos
libertar da opressão moral acaba ficando monótono e datado?
O que para Sade deveria ser uma transgressão terrível virou um jantar
inteligente para gente que recicla lixo e, depois de tomar um "vinho em
conta", goza chupando pés femininos. Em alguns anos, teremos pedófilos
que também reciclam lixo e são budistas de butique.
Os "sadômasôs sustentáveis" dizem que você pode ser um deles e ser uma
pessoa que não joga lixo na rua, que vota conscientemente, que é contra a
indústria farmacêutica e ajuda velhinhas cegas a atravessar a rua.
De repente, até vão para encontros em salas escuras com sua "dominatrix"
brincar de "escravos" depois da reunião de pais e mestres na escolinha
do filho, que, é claro, não é um problemático como o filho do casal de
neuróticos.
Logo serão capazes de dizer que gostar de ser espancado, queimado, mijado na boca e humilhado é harmônico com Jesus.
Os culpados por terem feito da filosofia do Sade um cachorro desdentado
foram a moçadinha do "vamos desreprimir o sexo" ou do "gostar que mijem
na sua cara também é cultura". Um modo "digno" de protestar.
Em matéria de protesto, ainda prefiro Lutero, Calvino e os pirados da Nova Inglaterra.
A personagem feminina do livro "A Letra Escarlate", de Nathaniel
Hawthorne, autor americano do século 19 (o filme baseado no livro, com
Demi Moore, é ruim porque faz dela uma feminista injustiçada, ainda mais
"boring" do que Sade...), é um hino ao erotismo na mulher. Toda
culpada, toda condenada, toda humilhada, toda possuída.